quarta-feira, 17 de julho de 2013
Viagem à cidade dos mocorongos
Recebeu a bolsa. Pesada. Colocou no bagageiro do ônibus. Destino: Santarém. Terra dos mocorongos. Um senhor que não abriu a boca durante os dias de viagem sentou ao lado. Com uma mala. Colocada entre os dois. Não reclamou. Não sabia o que o fizera aceitar aquela aventura. Um desconhecido. Uma proposta. E ele foi, mesmo porque precisava sair dali, daquela cidade, daquelas pessoas, daquilo tudo que o esmagava. Quase não comeu. Quase não dormiu. Olhava a paisagem, as casas, os animais, as pessoas, tudo como se fossem imagens projetadas em névoa. Desembarcou na rodoviária no meio de uma madrugada quente. Desceu, pegou a mala e foi a pé ao endereço que mandaram decorar. Nada de papel escrito. Era um hotel cuja escada, de madeira, estava torta, com partes podres, ameaçando despencar. Subiu ouvindo o ranger das tábuas. Foi ao quarto indicado. Bateu à porta. Quando abriu notou que a pessoa que o esperava era a mesma que lhe tinha feito a encomenda. Entregou a bolsa. O outro disse que não precisava mais. Pediu que abrisse. Ele abriu. Havia muito dinheiro. Ele podia ficar com tudo, disse o estranho. Perguntou se era dinheiro sujo. Não, respondeu o outro. Dusse que só queria saber se ainda havia gente de confiança no mundo.
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