terça-feira, 23 de julho de 2013
Olho aberto
Olhou para o olho sem vida, mas o azul cristalino continuava o mesmo. Então começou a falar com o dono do olho, o esquerdo, que estava aberto. Era uma conversa guardada durante toda uma vida, só que agora havia uma morte. Falou com todo o carinho que poderia dar ao dono daquele olho, daquele corpo estendido no granito frio de uma sala no fundo do hospital. O corpo deitado estava nu. O corpo em pé estava com a alma desnudada. Conversou como uma criança sentada no colo do pai. Livre. E ele sabia que o dono do olho estava ouvindo, porque aquela era uma declaração guardada desde o nascimento do que estava em pé. Uma declaração que o que estava deitado também queria fazer e nunca conseguiu. Os dois eram iguais. A diferença era a cor dos olhos. A do que estava em pé era verde. Tinha outra pessoa naquele espaço. Não falou nada. Olhava de vez em quando o filho fazendo um carinho na cabeça do pai e falando com a doçura dos anjos. Ele ouviu a declaração de amor, assim como aquele que tinha um olho aberto e que depois foi fechado e beijado.
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