terça-feira, 17 de setembro de 2013
Boca do estômago
Na boca do estômago o soco é como receber a visita indesejada de um furador de gelo. Pensei nisso quando entrei no consultório do pronto-socorro do hospital. Só que a dor não vinha de fora. Estava dentro, me corroendo tanto que eu andava curvado feito um velho de 200 anos para tentar aliviá-la. Gastrite. O médico então perguntou se eu bebia. Eu disse que comia. Perguntou se eu usava drogas. Perguntei se ele tinha alguma novidade. Perguntou se eu cheirava cocaína. Eu disse que colocava pasta base no pão para fazer sanduíche. Como todo médico, o doutor não ergueu nem uma sobrancelha de preocupação. Me aplicou uma injeção que fez sumir a maldita queimação nas entranhas. Pedi algumas ampolas para levar para casa. Ele riu. Aí fez a recomendação: antes de usar qualquer coisa, coma gelatina. Perguntei se ele tinha alguma pronta ali. O do jaleco branco deu risada. Passei no supermercado e enchi um carrinho. A moça do caixa perguntou se ia ter festa de criança na minha casa. Eu disse que sim.
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