segunda-feira, 30 de setembro de 2013
Por dentro
O doutor apertou um botão do aparelho celular super-turbo-intercooler e na tela apareceu a coisa. Olhei, olhei - e não identifiquei. Ele contou que era um dedão do pé decepado e preso ao corpo só por uma parte da pele. A vítima tinha sido atingida por uma barra de ferro. O doutor mostrava aquilo com a impassibilidade dos médicos. Na foto seguinte o dedão estava reimplantado, costurado e roxo. Pedi para ver de novo a foto anterior. Lembrei de que o mesmo médico tinha feito uma minha. Quem caiu fui eu. Rompi o tendão acima do joelho direito. Ele mesmo operou e quando abriu a avenida da rótula ao meio da coxa e escancarou tudo para fazer o serviço de religação, clicou. De vez em quando olho aquela imagem para me ver por dentro. Chego à conclusão que tem relação com todas as neuras e dúvidas da existência. Olho sangue, carne, nervos e ossos agredindo o que resta de bom senso em mim, tal a complicação daquele emaranhado. Sou eu por dentro.
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