sexta-feira, 20 de setembro de 2013
Careca na neve
O trauma provavelmente era hereditário. Desde que prestou serviço militar, as entradas na cabeça começaram a aparecer. Ele morria de medo de ficar careca. Talvez por ter sido um dos maiores gozadores dos "pouca-telha" durante a infância e adolescência. Talvez por ter visto seu pai sofrer com a calvície e tê-lo visto pintar a cocuruto de preto porque não tinha dinheiro para comprar uma peruca. Então fez de tudo para, pelo menos, parar a progressão daqueles caminhos. Todos os remédios e unguentos foram passados. Até xixi de porco e merda de galinha passou - tentativas que faziam sua mulher ficar cada vez mais nervosa. Ela achava que o marido deveria, sim, é ir para ao divã de um psicólogo ou psiquiatra. Ficaria mais barato fazer a cabeça de uma outra forma, dizia ela. Nada. Peruca, implante, ele jamais usaria. Não gostava de ver outras pessoas que adotavam essas medidas paliativas. Ficou careca. Sobrou o rodapé. Ele usava um boné que não tirava nem para tomar banho. No emprego novo pouca gente sabia do problema. Até que um dia um moça muito bonita e delicada, que ele admirava, fez a pergunta fatal: "Nevou lá no seu bairro?" Ele não entendeu até que se olhou no espelho e viu a quantidade de caspa que tomava conta dos ombros de seu paletó.
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