terça-feira, 24 de setembro de 2013

Tosse

Ouviu alguém tossir e acordou. Morava numa cabana no meio do nada. Sozinho. Tinha decidido assim. Assim estava decidido. Foi há anos. Conseguia sobreviver com o mínimo. O máximo eram os livros empilhados na estante. Lia, relia. Aprendia cada vez mais. Para que, não sabia. Importava o prazer de adentrar aos mundos abertos pelos escritores da preferência. Por ali não passava ninguém. O lugar ficava na margem de um pântano. Mas ele sabia os caminhos dos paraísos locais. Não contava para ninguém. A tosse. Levantou. Saiu com a lamparina na mão. Seguiu o som. Viu o vulto vestido de branco. Parecia uma mulher. Era. Chegou perto. Perguntou se estava tudo bem. Ela disse que sim. Ele quis saber o que estava fazendo tão longe de tudo. Ela mostrou um cigarro aceso. Tinha saído de uma festa. Nervosa por ter brigado com o marido. Se perdeu. Saiu de carro, pegou estrada, parou longe no breu da noite e andou até cansar. Chegou ali. Ficou a pensar. E a fumar. Então, deu mais uma tragada e disse que voltaria para o lugar de onde saíra. Estava mais calma. Enquanto falava, não tossiu. Só fez isso quando ele se virou e voltou para a cama e seus pensamentos.

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