quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Lâmpada

A mochila era dessas vagabundas, cor do exército - qualquer exército. Um gorro na cabeça segurava um pouco os cabelos, caídos até o meio das costas. Barbudo, magro, alto, ele não aguentava mais aquele calor insuportável da cidade do Norte brasileiro. Tinha viajado três dias de ônibus com o propósito de chegar a Manaus via Rio Madeira. Dali, iria para Belém num daqueles barquinhos que volta e meia se transformam em notícia porque afundam. Estava a algumas centenas de quilômetros do primeiro barco. Procurou um abrigo barato. Indicaram um quarto num posto de gasolina de beira de estrada. Foi. Pagou. Entrou. Fechou a porta. Acendeu a luz. O espaço era todo pintado de marrom - e não tinha janela. Muito menos um ventilador. Ele tirou a roupa, tomou um banho e logo depois de se enxugar estava suando em bicas. Deitou. Olhou para o teto. A lâmpada era amarela. Ele ficou olhando e o calor foi aumentando. Achou que estava delirando pois sentiu uma brisa, viu o sorriso branco como pérola de uma menina da cor das paredes e do teto, sentiu água do rio nos pés, viu a floresta de cima, a lua fazer um facho de luz na água do rio durante a madrugada. No dia seguinte foi em busca do que procurou. Levou a lâmpada e a luz com ele.

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