quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Coelho
Sou um coelho. Gigante. Mas coelho. Meu nariz é frio e tem antenas. Ando pelas ruas de uma cidade grande qualquer. Não, não é Páscoa. Sou um coelho cujo calendário não é de chocolate e nem bolinho. Foi o que restou na minha vida. Me acostumei. Faço propaganda. Os meus pelos estão encardidos. Minha alma também. Outros entraram aqui dentro, mas desistiram. Estou fazendo isso há mais de ano. Sou um coelho velho e sem coelhinhas. Impotente. De tudo. Olho a paisagem por um pequeno buraco. Algumas crianças me adoram. Outras têm medo. Por causa do tamanho. Não sei se sou macho ou fêmea. Vai ver sou um coelho anjo. Hoje aconteceu uma coisa estranha. Vi outro coelho no calçadão. Eu indo, ele vindo. Paramos. Olhamo-nos. Buraco no buraco. Lá dentro tinha uma mulher. Eu fiquei com vontade de conhecê-la. Marcamos encontro. Fui lá no endereço que ela me deu. Nas quebradas. Casa simples. Limpinha. Ela sozinha. Eu sozinho. Rostos sofridos. De coelhos sobreviventes. Ela disse que tinha uma surpresa. Era um bolo. Comi um pedação. Delicioso. Bolo de cenoura.
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