quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Cabaço

Cabaço. Ouviu pela primeira vez enquanto carpia mato na roça. Cabaço. O que seria aquilo? O masculino da cabaça? Essa ele conhecia naquele fim de mundo. Bebia água nela. Tomava banho com ela. Metade dela, aliás. Um dia, com uma inteira, deu na cabeça de um desafeto que ficou falando mal da roupa que ele usava, só por causa dos buracos na calça e porque a camisa que um dia foi branca estava encardida. Pobre ele sabia que era. Só não sabia o que era cabaço. Não perguntou para o pai, que era fechado; nem para a mãe, pois podia ser que aquela palavra sonora fosse de porcaria, como se dizia ali. Cabaço ficou na cabeça. Nas noites estreladas ele ficava sentado no banquinho do lado de fora do casebre, encostado na parede de barro, olhando todo aquele universo, mas achava que o cabaço era muito mais misterioso. Até que um dia, muito tempo depois, soube. Porque a mulher que amava lhe contou. E ele entendeu que era apenas uma palavra com sonoridade suficiente para atravessar séculos fazendo estragos.

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