terça-feira, 3 de setembro de 2013
Pelo telefone
Vinte anos depois abriu o baú. Ali guardava todos os cartões de visita que recebera durante a vida profissional. Pacientemente começou a tentar entrar em contato com aqueles nomes. Tinha um telefone antigo, preto, pesado, de discar. Mantinha o costume de fazer isso com um lápis ainda a ser apontado. Não lembrava quando começou a colecionar os tais. Mas sabia que nunca havia telefonado antes para seus portadores. Achava-os chatos de galocha. Pessoas que incomodavam e que tinham prazer em passar a coisa como se aquilo aumentasse a própria importância, o status, o poder. Agora ele queria falar algo, mas não sabia o quê. Demorou dias, meses nessa tarefa. Não conseguiu falar com ninguém. No último número, uma secretária eletrônica atendeu. Mas a gravação não dizia a quem pertencia aquele telefone. Ele rasgou o cartão, fechou o baú e chorou sozinho na sala da casa que ficava no alto de uma colina sem árvores.
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