segunda-feira, 16 de setembro de 2013
Um barco na noite
Todos fomos acordados no meio da madrugada. Amarrotados que estávamos da viagem de Belém a São Luis. Era preciso atravessar o rio num barco fechado. A luz era mínima. Entramos e nos sentamos em dois bancos que nos deixavam uns de frente para os outros. Ninguém se olhava. Quando o motor a diesel acelerou e começamos a navegar, parecia que a escuridão do infinito tinha tomado conta de tudo. A quilha cortava a água e a maioria fechava os olhos. A margem que deixamos se elevou até o céu - e a que nos esperava estava abaixo da linha da água. Era como um daqueles precipícios de pesadelo, onde caímos até acordar. Um solavanco tirou todo mundo daquele pavor. Saímos. Esperamos mais um pouco o ônibus que continuaria a viagem. Entramos. O dia começou a clarear e a floresta que ladeava a estrada era de um silêncio que remetia aos deuses. Mas o barco e aqueles longos minutos sobre a correnteza do rio ficaram marcados a ferro e fogo em todos aqueles corações.
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