quinta-feira, 31 de outubro de 2013
O Bala
Ele tem saudade do Bala. Sempre foi o carrinho preferido. Branco, duas portas. Voava. Motor movido a gasolina. O motorista, a álcool. Já tinha computador de bordo naquela época. Só assim se explica como conseguia voltar para casa com o dono mamado e apagado. Fez isso até em estrada - e não havia nenhum santinho grudado no painel ou pendurado no espelho retrovisor interno. O Bala era sensível. Certa vez, porque o piloto insistia e furar seguidos sinais vermelhos de uma grande avenida, jogou para fora da estrutura a roda dianteira esquerda. As faíscas que saíam do contato do ferro com o asfalto iluminaram a madrugada fria da cidade. Em outra ocasião, resolveu estacionar encalacrado num canteiro central. Ele amava o Bala, mas o carro não aguentou tanta loucura. Morreu num poste depois de o dono ter feito uma via sacra por vários bares e encerrado o roteiro naquele que era frequentado apenas por tiras. O Bala não suportou. A pancada foi tão forte que o transformador de energia explodiu e meia cidade ficou sem luz. Mas ele salvou o dono. Sem cinto, o encosto do banco quebrou e o motorista se livrou de afundar o peito no volante, que ficou todo retorcido. O carro foi para a sucata. Mas a história de amor ficou.
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