terça-feira, 22 de outubro de 2013

Bolachas

Só lembra que aquela mão enorme, de dedos finos e longos, desceu do céu e estralou na sua bochecha esquerda. O rosto virou, tudo escureceu, mas as lágrimas ele conseguiu conter, não sabe como. O pai então virou as costas e foi embora. Ele ficou com aquela marca durante dias, semanas, meses. Não saía. O vermelhão desapareceu logo, mas a dor na alma, não. Foi assim durante anos e anos, mesmo porque aquele tinha sido único tapa que levou na vida. Tapa, não, bolacha. Gostava da denominação, sonora, mas não entendia o motivo de ela ter acontecido. Anos mais tarde, foi visitar a família que se mudara para outro estado. Lembrou daquele episódio e queria saber da mãe, já que o pai tinha partido, o que deflagrou o episódio. Ela lembrou até a idade dele, seis anos, e se espantou da memória do guri. Então, falou: "Foi por causa da bolacha".

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