quinta-feira, 3 de outubro de 2013
Na cadeira do dentista
Fechou os olhos, abriu o bocão e ficou esperando. Não, não era o barulho e o contato da broca. Ficou esperando o que o dentista iria falar. Sim, porque ele tinha esse costume de entabular um monólogo a partir do momento em que o paciente não podia mais fechar a boca. E fazia perguntas, jamais respondidas, obviamente. O que sempre abria a boca e deixava as calças para pagar a conta, porque o profissional ali é caro, resolveu adotar uma tática na consulta seguinte. Assim que entrou na sala, antes de sentar naquela cadeira que tem o desenho próprio para tortura, começou a falar sem parar, sem deixar o doutor responder, emendando assuntos, perguntando e respondendo ao mesmo tempo, enfim, uma metralhadora falatória que deixou o outro mudo. Depois, sentou,fechou os olhos, abriu o bocão, ouviu o som da broca, sentiu-a trabalhar e... não ouviu um "a" do dentista. Feliz da vida, foi para casa descansar. À noite, acordou com o dente latejando e com uma dor que jamais sentira em mais de 20 anos aos cuidados do doutor.
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