terça-feira, 15 de outubro de 2013
Mangas do destino
Sempre que podia comprava mangas. Muitas. Se fossem fibrosas, melhor. O prazer não era tirar os fiapos que ficavam entre os dentes. O prazer também não eram os nacos da fruta que comia. O prazer estava na casca. Tinha um ritual que seguia sempre. Uma faca de prata cortava os lados carnudos da fruta. Ele então tirava o principal com os dedos, que ficavam lambuzados. Então, metia a boca no que sobrava colado à casca. Era nesse momento que sempre sentia a mesma coisa. Nunca falou para ninguém, mas ao fechar os olhos para saborear ainda mais o gosto, se via a milhares de quilômetros dali, embaixo de uma mangueira frondosa, ela sozinha no meio de um imenso terreno onde se via aqui e ali plantações de mandioca. O céu azul e o sol inclemente. A árvore tinha centenas de frutas, verdes, combinando com a cor das folhas. E ele via com a alma a presença de todos os antepassados naquela paisagem. Era o início do caminho. Assim, ele jamais iria esquecer. Porque jamais iria deixar de comprar mangas.
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