quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Cimento

Dom Tomaso não era Dom Tomaso, apenas um cabra com cara amarrotada que vivia numa praia sossegada sem dar bandeira que era da Máfia e, pior que isso, dedo-duro, como veio a se comprovar anos mais tarde. O vizinho um dia recebeu a visita de um homenzinho discreto que lhe mostrou uma foto e disse-lhe o nome real daquele que todo dia saía para caminhar na areia antes de o sol nascer. Ele riu, riu, rolou de rir. Não acreditou na história e foi cuidar da vida, que era catar marisco e subir em coqueiro para ter o que comer e beber durante o dia e a noite. Um dia ele não resistiu ao ver Dom Tomaso, que para ele e todo mundo do vilarejo era o Giusepe, e erguntou então se ele tinha vagina no nome. Giusepe riu  também e se recolheu à casa simples. De noite, quatro brutamontes entraram no quarto daquele vizinho, que tinha vergonha de falar Buscetta, e o levaram amarrado para um buraco que era a fundação de um prédio em construção muito distante dali. Um caminhão de concreto encostou e cobriu-o. Dom Tomaso apareceu e fez questão de misturar muito cimento em  pouca areia para fazer o acabamento da obra.

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