quarta-feira, 30 de outubro de 2013
Todo dia jornal da tarde
O menino lhe trazia o jornal toda tarde. Tinha o cabelo liso e usava franjinha. Ganhava um café com leite que bebia como se fosse a maravilha do mundo. A banca do pai ficava a uns 200 metros do boteco. O que comprava o jornal era filho do dono do bar. Adolescente. Não sabia o que fazer da vida. Gostava daquele jornal porque tinha grandes fotos e algumas reportagens diferentes do que ele costumava ver nas primeiras páginas dos outros. Os dois conversavam pouco. Nem tinham muito assunto. De segunda a sexta o menino trazia o exemplar assim que ele chegava. Por causa daquele jornal, e de outros que começou a acompanhar naquele tempo em que os generais comandavam a ordem unida no país, o adolescente arriscou na profissão de repórter, já que não imaginava o que iria fazer. Vários anos depois chegou a escrever algumas reportagens para aquele jornal que lia entre servir uma cachaça e outra. Hoje ele ainda se pergunta o que aconteceu com o guri. Se pudesse encontrá-lo, iria agradecer por ter-lhe aberto as portas de um mundo que, ali, naquela esquina suburbana, eles não tinham ideia do que fosse.
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