terça-feira, 1 de outubro de 2013

Missão cumprida

Para ele não importava o que ia dentro. Mas sim o que ia fora. A bolsa, por exemplo. Tinha uma estrutura rígida e na imitação de couro não havia mancha alguma, por menor que fosse. Era enorme, como se servisse apenas para levar aquele objeto luminoso e retangular. Sim, luminoso, porque de alumínio tão areado, como se falava, que, se bobeasse, serviria de espelho. Os elásticos que mantinham o conteúdo protegido eram branquinhos e formavam uma figura geométrica. Não, ele não se importava com o que ia dentro. Ok, sempre tinha feijão, arroz e um bife pousado em cima. Em camadas. Na hora do almoço ele colocava no banho-maria e comia ali mesmo, olhando só para o que o garfo conseguia retirar de dentro. Não lavava o recipiente. Era serviço da mulher que cuidava do objeto como se ele fosse entrar no testamento para os filhos do casal. Ele não precisava falar que era preciso todo o cuidado. Ela sabia. Eles se falavam por silêncio e gestos. Um dia ele saiu da fábrica, depois de 20 anos de trabalho. Era operário. Guardou a bolsa no guarda-roupa. Lá dentro, quietinha, ficou a marmita - feliz por ter cumprido a missão.

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